Pois é, a razão de ser do blog começou agora. Há duas semanas, cheguei a Freiburg. Os primeiros dias foram de correria total, resolver as burocracias necessárias para que eu me estabelecesse na cidade etc. Como já passou um tempo, vou contar as coisas por temas, assim fica mais fácil pra eu me organizar.
Casa: Estou morando numa das residências estudantis da cidade. Nao fui pra residencia que eu queria inicialmente, a que fica num parque aqui da cidade (Seepark, fotos no Orkut), mas sim numa outra mais perto do centro da ciadade. No fim das contas, acabou sendo uma boa, pq essa residencia em que eu estou é a mais próxima da minha faculdade e relativamente próxima do centro da cidade, o que facilita um tanto as coisas, tanto no verão tropical q ta fazendo aqui, quanto no inverno quando ele chegar, e em todas as noites.
Moro com mais 6 pessoas, 3 alemães, 1 japones, 1 chinesa e 1 francês. Desses, os alemães são moradores fixos, e os outros sao temporários como eu. O pessoal é bem interessante, um dos alemães nasceu na verdade no Haiti, é biólogo molecular e nas horas vagas um puta fotógrafo. O outro alemão é físico e a alemã é negra, metade americana e tem cara e jeito (e corpo) de baiana. Me dei super bem com eles de cara e acabei ganhando um convite pra continuar morando aqui, no quarto do japonês, que está indo embora no fim de setembro, exatamente quando eu teria que me mudar. Assim, minha situação doméstica está resolvida logo de cara, com a vantagem de morar com alemães, o que vai me ajudar muito aprender alemão (já que no mestrado eu vou conhecer pouca gente que fala alemão).
Aulas de alemão: Então. É foda mesmo. Mesmo mesmo. Assim, eu estou entendendo tudo nas aulas. Mas o problema é que é quase impossível se adiantar às aulas e sacar as estruturas da língua, por causa das porcarias das declinações. Entao tudo tem que ir a passinhos de formiga, e a frustração de se sentir analfabeto cresce a cada dia. Mas tudo bem, vou chegar lá.
Calor e água: Nessas semanas Freiburg tem justificado a fama de sunny city of Germany. Depois da nublação de julho, a maioria dos dias aqui estão lindos, céu azul e um puta calor. E o bom é qua aqui tem muitas opções de lugares pra nadar. A mais óbvia é o Seepark, o parque grande da cidade, que tem um lago razoável no meio (é tipo um piscinão de Ramos, só que limpo dentro e com loiras gatas fora). Mas eu já fui também a um lago a uma meia hora de bicicleta do centro da cidade (meia hora pq as pessoas foram a metade da velocidade em que eles andam normalmente pra me esperar, enquanto eu destruía minhas pernas tentando acompanhá-los) e a outros dois no meio da Floresta Negra, a meia hora de trem daqui. Os lagos da floresta são bem familiares, com as mamães e vovós levando seus catarrentinhos pra nadar. Já os urbanos são ocupados na maioria por estudantes e velhinhos sem o resto da família e têm um tanto de gente pelada.
Gente pelada: acho que meu grande choque cultural aqui foi na minha primeira ida ao Seepark. A Katrin tinha me falado que era bem comum as mulheres fazerem topless nos parques, e de fato eu vi bastante por lá. O que eu não esperava era ver, ali, num parque no meio da cidade, numa área absolutamente como outra qualquer, e com pessoas vestidas em volta, um grupo de umas 30 pessoas peladonas. Não fiquei olhando, mas pelo que eu pude perceber, eram quase todos velhos e ripongos, mas whatever. Tomei mesmo um susto mas agora eu já to tão jaded quanto os alemães. No outro lago que eu fui de bicicleta tinha mais pelados ainda, quase metade das pessoas que eu vi, e dessa vez mais gente mais jovem e menos dorme sujo. Além dos lagos, outro acontecimento peladístco engraçado foi na sexta passada quando eu fui na única balada da cidade que fica aberta até o último ir embora. Como eu já cheguei lá meio bêbado, fiquei um pouco preocupado quando eu vi, no meio da festa, um índio de dreadlocks coloridos absolutamente peladão, headbanging na pista de dança. Depois eu comentei com as pessoas e todos disseram que ele está sempre nessa festa às sextas e sempre peladão, e em geral com a sua namorada, também devidamente sem nada.
Clima geral da cidade: Freiburg também manteve e reforçou o que me fez gostar tanto da Alemanha. Aqui as coisas são mais cruas e objetivas. Desde as roupas e jeitos das pessoas, passando pelas casas, carros, bicicletas e tudo mais, eu não vejo aqui a busca desesperada por significado e status q eu sempre via em alguns muitos lugares de Brasilia e que vi em Paris e, em menor medida, em Londres por exemplo. Aqui me parece que cada um é o que é, e não importa muito o que te cerca. Talvez eu enjooe e ache tudo meio dull com o tempo, mas por enquanto, acho que o meu jeito se encaixa muito bem por aqui (mas não, eu nao vou ficar peladão na rua).
Além disso, eu percebi bem como uma universidade muda a cara de uma cidade. Freiburg é mais ou menos do tamanho de Resende. Mesmo com todas as brutais diferenças economicas e culturais entre o Brasil e a Alemanha, foi impossível pra mim não comparar as duas cidades. A intensidade das coisas aqui é imensa, mesmo com a frieza do alemão médio. Acho que Resende teria um pouquinho disso se, ao invés da gloriosa AMAN, tivéssemos uma boa universidade pública por lá. E eu teria sido uma outra pessoa, provavelmente bem melhor. Mas enfim, passou passou, deixa pra lá.